sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Resolvi começar a seção de poesia com o meu escritor favorito: Guimarães Rosa
Pescaria
O peixe no anzol
É kierkegaardiano.
(O pescador não sabe,
Só está ufano.)
O caniço é a tese,
A linha é pesquisa:
O pescador pesca
Em mangas de camisa.
O rio passa,
Por isso é impassível:
O que a água faz
É querer o seu nível.
O pescador ao sol,
O peixe no rio:
Dos dois, ele só
Guarda o sangue frio.
O caniço então
Se sente infeliz:
É o traço de união
Entre dois imbecis.....
Adamubies?
Corpo triste
Alva memória
Tenho fadiga
Não tenho história.
Triste sonho:
Sonhar quero....
Pelo que espero
Tudo abandono.
Corpo triste, triste sono,
Faz frio à beira da cova,
Onde espero a lua nova
Como o cão espera o dono.
Ou……Ou……
A moça atrás da vidraça
Espia o moço paasar.
O moço nem viu a moça,
Ele é de outro lugar.
O que a moça quer ouvir
O moço sabe contar:
Ah, se ele a visse agora,
Bem que havia de parar.
Atrás da vidraça, a moça
Deixa o peito de suspirar.
O moço passou depressa,
Ou a vida vai devagar?
A Ausente Perfeita
Mal refletida em multidão de espelhos,
Traída pela carne e meus olhos,
Pressentida
Uma ou outra vez, quando
Consigo gastar um quanto de minha
Pesada consolação transitória
Poderás ser:
A ave
A água
A alma?
Para quem quiser reler obras-primas, leiam também. Tudo bem, admito, a minha vida de jornalista “pau para toda obra” só me deu tempo para reler dois livros, Grande sertão:veredas e Primeiras Estórias.
Grande sertão:veredas
Manuelzão e Miguilim
No Urubuquaquá, no Pinhém
Noites do sertão
Sagarana
Primeiras Estórias
quarta-feira, 11 de julho de 2007
Livro conta um pouco dos rígidos costumes ingleses dos anos 70
Carolina Matos
As famosas peripécias sexuais, os rompimentos com rígidas normas sociais e o ceticismo em relação às tradições religiosas foram alguns fatos que marcaram os anos 70 no Ocidente. Um período conturbado e rico que já foi dissecado em inúmeras peças de teatro, programas de TV, obras literárias e teses acadêmicas. A Inglaterra, por exemplo, parece somar a obsessão de olhar para o próprio umbigo com a reavaliação quase nostálgica destes anos que antecederam o Thatcherismo. Nos anos 90, os lemas são a moda neo-hippie, o partido do primeiro-ministro Tony Blair tentando criar o “novo” sobre o “velho” trabalhismo e produções de TV revendo a época da boca-de-sino, em programas como The Buddha of Suburbia (“O Buda dos Surbúbios”, BBC2,1993), adaptação do romance premiado de Hanif Kureishi, que também escreveu My Beautiful Laundrette (Minha Adorável Lavanderia,1985), dirigido por Stephen Frears. Traduzido para o Português pela Editora Record, o livro Um Experimento Amoroso (238 páginas), sétimo da escritora inglesa Hilary Mantel, usa os anos 70 como pano de fundo para contar a história de Carmel McBain, uma garota de classe média baixa do norte da Inglaterra que consegue vencer barreiras sociais e conquistar uma vaga na Universidade de Londres.
Ganhadora de vários prêmios na Inglaterra, entre eles o Shiva Naipaul Memorial Prize (1987), Hilary Mantel mantém o estilo cético e irônico dos seus livros anteriores, Oito meses na rua Gaza e Mudança de Clima, e os seus temas prediletos, como a perda da fé, as angústias terreais e o olhar feminino predominante e peculiar. O seu quase sarcasmo e deboche são retomados em Um Experimento Amoroso, um livro com traços autobiográficos que centraliza a ação em relatos psicológicos que hesitam entre três passados da personagem principal, Carmel McBain: a sua tediosa infância no primário numa cidadezinha industrial do norte; a batalha para obter uma bolsa e ingressar num rígido e antiquado colégio de freiras, e os seu esforços para se destacar como advogada- -rumo-a primeira-ministra na Universidade de Londres no final dos anos 60.
Os clichês desta época áurea estão todos lá, embora vestidos com uma outra roupagem: o conhecimento entre as mulheres universitárias do preço de um aborto, os ataques às “Sofias” – hoje leia-se “Patricinhas”- que queriam casar com os “Rogers”(os “Mauricinhos”) depois de formadas, e as regras rígidas da etiqueta inglesa, como as que obrigavam as meninas a não serem gulosas. Carmel acaba sucumbindo à imposição dos costumes ingleses e mergulha na anorexia, levando-a no final à tragédia. As conseqüências são uma justaposição da perda da fé à um ceticismo intelectual que não a leva para Downing Street, mas para uma casa de família.
Boa nas frases de efeito e nas descrições dos conflitos pessoais de Carmel, Mantel peca por ter uma visão demasiadamente “inglesa” do mundo e de seus personagens, o que dificulta uma narrativa mais envolvente para um leitor não-inglês. Filha de pais nascidos na Irlanda, a rígida mãe de Carmel parece resumir o estilo literário da própria autora quando diz que ela parece uma “inglesinha” de tão fria que é. Mantel nos oferece sempre uma visão um tanto superficial e distante dos seus personagens, principalmente das outras duas garotas que foram criadas com Carmel na sua cidade natal e também conseguem uma bolsa em Londres, Karina e Julianne. A primeira é descrita como sendo filha de pais imigrantes – cuja nacionalidade seria “russa”, mas nunca se sabe ao certo. Karina é o objeto do desprezo de Carmel, que prefere a companhia da esnobe Julianne, uma menina de classe média alta que a “cada dia acorda em uma cama diferente.”
Apesar de ter a intenção de desvendar as conservadoras barreiras que separam as classes sociais inglesas e tolhem a ambição feminina, Mantel se recusa a ter uma visão crítica da famosa repugnância de muitos membros da classe trabalhadora inglesa por imigrantes, e ainda o desejo de ascensão social de muitos na associação com elementos da burguesia, coisa que o ator John Cleese explorou bem no célebre seriado inglês Fawlty Towers (BBC1,1969). Em O Experimento…, a autora parece optar pelo caminho simplista das rivalidades pessoais, o que faz o ódio de Carmel por Karina ser reduzido a justificativas pouco consistentes, como o fato da menina “comer gordura” e ter pais que não falam inglês direito. A autora acaba reforçando os clichês das quais ela mesma parece querer combater. O seu livro anterior, o thriller policial Oito meses na rua Gaza(1988), também inovou muito pouco na visão que o mundo tem do Oriente Médio, alimentando os batidos estereótipos de uma sociedade feudal mergulhada em um islamismo fanático, ignorando a interação complexa e confusa de um modernismo que cresce com furor ao lado do tradicionalismo conhecido.
Em tempos de pós-feminismo, a autora parece esquecer ainda a relevância de problematizar o universo masculino, mesmo se for a título de botá-lo em xeque com o feminino de inspiração feminista. Os homens em O Experimento Amoroso ou são os “Rogers” que circulam clandestinamente pelos quartos das moças no dormitório da universidade ou são os machistas e pedantes esquerdistas do Partido Trabalhista, que não dão a palavra para as mulheres companheiras. Apenas o namorado de Carmel é individualizado, embora receba o mesmo tratamento superficial dispensado às outras meninas. Desta forma, O Experimento Amoroso enquadra-se entre a boa e precisa descrição dos conservadores costumes ingleses e dos conflitos de uma adolescente em amadurecimento, mas perde o impacto das críticas e desestimula o envolvimento do leitor por suas dificuldades em transpor as fronteiras nacionais e explorar mais os personagens devidamente interagidos com o meio social e os famosos anos 70!
* Crítica publicada no caderno Idéias do Jornal do Brasil, no dia 27 de novembro de 1999.
terça-feira, 10 de julho de 2007
Smith: an icon of pos-modernity
Carolina Matos
Any criticism of Kevin Smith’s (Born, New Jersey, USA, 1971) films must necessarily be in the past tense. Viewed by many critics as an ex-auteur and independent filmmaker, Smith is that type of director that entered Hollywood after making a few original loud-mouthed, witty, sexy and hilarious films, the so-called New Jersey trilogy. His main achievement was bringing the importance of dialogue back to the core of cinema, at the expense of the camera. A fan of Stars Wars and teenage comic books, Smith was not influenced by other auteurs, like “Eric Rohmer and Jean-Luc Godard”, as he himself puts it, but rather by the likes of Spike Lee and the new Richard Linklater (of Slacker).
Centered on the sexual ups and downs of two young clerks of diverse personalities, the film has strength in its humour and original dialogues, eccentricity of its costumer-characters and in the first screen appearance of the pair Jay and Silent Bob, the latter played by Smith himself. Brought to life by friend Jason Mewes and Smith, the characters first appeared in comics that Smith produced, Jay and Silent Bob and Clerks: The Comic. Feminine promiscuity, male relationships, sex talk and discussions about Star Wars are the main subject matters of Clerks, which also provides the viewer with hilarious moments. In Clerks, the lack of a more visual sensibility can be taken up as a challenge to the argument that cinema is all about image.
The funny and “politically incorrect” Chasing Amy (1997) reclaimed Smith’s authorship among international film critics. Starring the three leads of Mallrats – Affleck, Joey Lauren Adams (as Alyssa Jones) and Jason Lee (as Banky) – Chasing Amy was both a cult hit and a mainstream success. Based on Smith’s personal experience, the story explores the difficulties of contemporary liberal relationship through Holden, a young romantic hero and comic-book writer of Bluntman and Chronic who falls head over heels in love with a lesbian, Alyssa, played by Smith’s then girl-friend Joey. Like much of Smith’s films, Chasing Amy depends on the formula of two guys talking bluntly about sex and making dick jokes, but it is his most serious work to date. Alyssa and Banky’s duet about injuries incurred during cunnilingus and the riffs on Star Wars mythology during the initial comic conference are some of the film’s high points. The characters Silent Bob and Jay are there again, with Bob (Smith) telling once more the ‘moral of the story’ and explaining the film’s title.
Chasing Amy opened definitely the doors for Smith to go to Hollywood, but for radical critics it seemed to signal to the end of his author career. Arguably, Smith has not been as successful yet as a director in Hollywood. As executive-producer of Good Will Hunting, he managed to win his friends Affleck and Damon an Oscar for the screenplay of the film, but his new piece Dogma (1999), seen as a clear departure from his relationship movies, has not been acclaimed either by the mainstream or cult critics and has actually been attacked for its senselessness and lack of consistency.
Filmography (as Director)
Clerks (1994)
Mallrats (1995)
Chasing Amy (1997)
Dogma (1999)
terça-feira, 3 de julho de 2007
Spike Lee: the angry voice of America?
Spike Lee (Born, Atlanta, Georgia, USA,1957) has been elected the angry voice of America by the mainstream white film industry and press. Polemic and self consciously radical in his commitment to an interaction of black nationalism with social realism within a style that has been deemed by lazy critics as a ‘MTV’ video production orientated one, Lee fixes his gaze on alternative black representations within a Brecthian and Jean-Luc Godard nuance and a folk-jazz, hip-hop, rap and youth urban culture aesthetics. Lee goes against the grain of the balanced filmmaker, stuck between action and emotion. Positioning himself midway between didacticism and dialects, Lee has challenged Hollywood with representations of black American life in the US, contributing to the treatment of race in the film industry as a living organism rather than a frozen entity and putting in the limelight films of other black directors, such as Jonh Singleton’s Boyz N The Hood (1991) and Mario Von Peeble’s New Jack City (1991).
Son of the respected jazz musician Bill Lee and of an art teacher, Jacqueline Lee, Shelton ‘Spike’ Jackson Lee studied mass communications at Altanta’s Morehouse College, where his father had been a classmate with Martin Luther King. The nickname ‘spiky’ was provided by his mother for his brusque character even in infancy. Spike Lee was introduced to film-making at the New York University, where he won the Student Academy Award prize for his project Joe’s Bed-Stuy Babershop: We Cut Heads (1983). His first student film was Answer (1980), a reverse of Griffith’s classic The Birth of a Nation (1915), which Lee claims was criticised by his teachers.
She Gotta Have It (1986) was Lee’s first feature film. A comedy, the film was about a young black female ensconced in a menage a quatre. It also highlighted the sexual stereotypes shared among black males. Directed, scripted and starred by Lee, the film was shot during 12 days with a low budget of US$ 175,000 dollars and won the best new director prize at Cannes. The exposure of black culture life disassociated from crime and drug-dealing within a new Afro-American semiotics of humour and style were seen as innovative. The treatment of gender identity conflicts within a race aesthetics combined with Lee’s hilarious performance as the bike messenger were some of the film’s high points. School Daze (1988) came out still in an atmosphere of hype with the director Spike Lee, seen by many as the new ‘black voice of America.’ Signalled by critics as artistically pallid and mushy, School Daze was somewhat of a disappointment in its wandering plot lines and overlong dance numbers. The difficulties of engaging a white audience were also felt in the film’s insider tone. However, the story of activism and interracial divisions in a black state college did well in the box office.
Notably, it was with the ground-breaking Do The Right Thing (1989) that Spike Lee was acclaimed internationally as a black independent film director. Do is arguably the most controversial and significant work of Lee to date. Inspired by the death of a young black man in the Italian-American community of Queens, in 1985, the film depicts the riots and racial tensions in New York. The story line centres on the pizza delivery boy Mookie, played by Spike, who works for the Italian-American Sal (Danny Aiello) in his pizzaria in the black neighbourhood of Brooklyn. The philosophies of the black leaders Malcolm X and Martin Luther King are used as competing forces which emerge in the conflicting voices of the younger generation, represented by the radicals Italian-American Vito (John Turturro) and the African-American Radio Raheem (Bill Nunn), more identified with X, and also in the older generation, represented by Da Mayor (Ossie Davis).
Do is also Lee’s most musical film: music is used as a play of competing and merging voices. Lee posits Public Enemy’s music and rap style, which have been embraced by the mainstream, as politically oppositional and revealing of racial tension, identity and social position. Music serves in Do to challenge Hollywood’s conventional approach, which rests on the intentions of pleasing a passive viewer who is made to be unaware of the music’s manipulative potential. Lee also redefines Godard’s use of the ‘jump-cuts’ in Breathless (1959) by repeating several shots of blacks, Italians and Koreans as a form of emphasising the sameness of racial stereotyping. Adopting a Brecthian approach, Lee makes use of multiple distanced storylines to explore racism sentiments among America’s minorities. Do The Right Thing was nonetheless surrounded in controversy. The film was acclaimed by progressive mainstream critics as ‘screamingly funny’, ‘astonishing’ and ‘1989’s best film’, while others accused Lee of stimulating racial violence. In spite of the hype, the film did not receive an award in the Cannes Film Festival.
Mo’ Better Blues (1990) is a strictly inferior piece, artistically rigid and with a hollow plot that does little to captivate the viewer. Starring Denzel Washington in the part of the jazz musician Bleek Gilliam, the film adepts to deal with the problems of artistic expression, which are shown to be the result of forced junior years of studying the trumpet. Like School Daze, the film suffers this time from overlong jazz numbers. The impulse of playing an agenda that identifies a moral in an interracial romance is the motif of Jungle Fever (1991), Lee’s next ‘joint.’ Similary to Do, Jungle Fever is self-conscious and dependent on artifice and impact dialogues. Again, Lee uses in both films good black actors, such as Denzel Washington and Wesley Snipes, stars which today are more identified with Hollywood mainstream cinema and action movies. In Jungle, Wesley plays a middle-class black architect who has an affair with his white secretary, the Italian-American Annabella Sciorra. Lee’s portrait of the impossibility of a successful amorous union between an interracial couple was received with disapproval by many critics, culminating in attacks of racism of the director.
First Hollywood epic about an African-American, the grandiose and symbolical Malcolm X (1992) did not live up to the polemic expectations of many whites and blacks. Deemed too tame and mythical, lacking in attempts of problematising Malcolm’s personality, the ore than three hour long film was a mainstream success among both white and black young audiences and the subject of many press criticisms. An adaptation of the classic Malcolm X autobiography written by Alex Haley, the film’s quality lies primarily in the conventional treatment if the epic genre. The outstanding performance of Denzel Washington as Malcolm and the glamourized construction of the main character as a mythical hero, rather than a complex political leader capable of mistakes, are examples of the film’s faithful commitment to its genre. Among critics, the film aroused neither favourable passions or strong attacks. This post-civil rights product, the result of an ultra-urban and neo-nationalist middle-class black American intelligentsia, raised both a priori discussions over its controversial potential and debates after its launch which seemed more interested in the complementation of its funding by African-American stars, such as Oprah Winfrey and Bill Cosby, than in Lee’s artistic and cinematic expression.
Still supported on the idea of the search for an African-American self-identity, Lee this time placed the issue within the personal sphere with the semi-autobiographical Crooklyn (1994).Although insisting that the story did not involve the Lees growing up in Brooklyn, Spike and his sister Joie and brother Cinque wrote the script based on their growing up experiences in the ‘70s. A systematic account of an African-American childhood, the film has been judged as ‘a haunting’ piece by critics, a delicate visual portrait of struggling childhood identities. A high oblique angle of the three kids when they are making their way to their mother’s funeral at the end of the film is one of these delicate moments that seems to come from the filmmaker’s memory.
In Clockers (1995) and Get on the Bus (1996), Lee experiments with changing film stock for different locales. Centring on drug addiction, street gang fights, pop music (Seal and Chaka Khan) and on the charisma of Harvey Keitel, the former follows on the old social-consciousness model of Do The Right Thing, but did not steer the passionate criticisms of Do. Nonetheless, critics where divided: some saw it as an overwhelming film, others found it unsatisfying. Get on the Bus has been identified as Lee’s most heart felt film. Delicate, instinctive and spiritual, the film uses the well-know metaphor of the journey to another town as a means of investigating character personality and development, and of calling for humanity and black activism unity. Unlike other earlier films, Get on The Bus places black women and black gay homosexuality at the centre of the narrative. This is perhaps the filmmaker’s attempt of self-criticism for centring black male chauvinism in his cinematic language (i.e. Do, Mo’ Better Blues, Clockers). One of the main characters on the bus, a prejudice chauvinistic black male that is heading with the others to a post-civil rights march in Washington, is finally beaten up by a gay activist who makes references to Lansgton Hughes and James Baldwin while giving the blows.
It is no surprise then that Girl 6 (19996) that came soon afterwards should have focused on the black female, although the mode is much more a post-feminist one and cannot be identified with any form of sister activism of the Civil Rights Movement. With a Prince soundtrack, the story is about a young female (Theresa Randle) who turns to telephone sex after many frustrated attempts of starting an acting career and ends up enjoying her job. The film’s strength lies more in the curiosity of the theme and the absurdity of the dialogues than in artistic expression per se. Following up on this revitalised ‘progressive’ approach, Lee turned his attention to documentary and to history of the Civil Rights Movement in 4 Little Girls (1997) with the help of the cinematographer Ellen Kuras. Weaving archival footage, still photography, swing-and-tilt lenses and interviews, the story investigates the emotional impact of the 1963 church bombing in Birmingham, Alabama, which killed four young African-American girls and fueled further political activism. Lee’s most recent film, a discussion of killings in New York in 1977 called Summer of Sam (1999), has not attracted much publicity and is maybe one of many recent signs of the director’s present artistic instability and indefinition of his future potential.
Filmography (as Director)
Answer (1980)
Sara (1981)
Joe’s Bed-Stuy Barbershop: We Cut Heads (1983)
She’s Gotta Have It (1986)
School Daze (1988)
Do The Right Thing (1989)
Mo’ Better Blues (1990)
Jungle Fever (1991)
Malcolm X (1992)
Crooklyn (1994)
Clockers (1995)
Girl 6 (1996)
Get on the Bus (1996)
4 Little Girls (1997)
He Got Game (1998)
Summer of Sam (1999)
sexta-feira, 25 de maio de 2007
Journalism and Political Democracy in Brazil
Paper: Journalism and Political Democracy in
Reuters Institute
Many South American countries in the last two decades experienced significant political and social changes, embracing representative liberal democracy and the global market after having lived through relatively long dictatorship periods. After escaping from the tentacles of the military generals (1964-1985), which kept the country tied to an old economic model of state intervention and to a weak form of political institutionalisation with fragile freedom of expression,
Media systems have thus been shaped by both market expansion and by the newly (re)gained political and civil freedoms which (re)emerged with liberal democracy. Due to the stabilisation of the country in the 90’s, economic liberalism was to a certain extent inclusive because of the emergence of a wider consumerist market and society in the aftermath of the dictatorship. Market liberalism afforded the means for the incorporation of broader segments of civil society as legitimate members of the country’s public sphere and as consumers. Political democratisation and market liberalism thus contributed on one side to improve political reporting in the press as well as having imposed restrictions on the proliferation of this same space of debate due to excessive commercialisation and political authoritarianism. Slowly however political reporting became more sophisticated and balanced, with public debate expanding amid the increase also of market pressures on news to lower quality standards. The commercial press in the last 18 years has thus experienced the tensions of attending to the public interest in response to political democratisation whilst maximising consumerism approaches to news. Thus if on one hand the democratic potential for the Brazilian media has grown in spite of the increase of media commercialisation, on the other hand there is still some way to go before a more representative democratic space is created in the mainstream media arena.
Given the favouring of the professional and objective journalism style over partisanship in the decades of the 1980’s and 1990’s, one might ask how did journalists manage to contribute to advance democracy and promote social and political change if they relied mainly on instrumental tools (professionalism) rather than idealistic ones (militancy)? I argue that journalists did make contributions to the democratisation process through the use of multiple journalism identities. Different journalism models – militancy and professionalism – had their purposes, contributing to advance democracy in different periods of Brazilian contemporary history. The professional model is thus not flawed and is actually more relevant than ever in an era of increasing media concentration, excessive commercialisation and growth of political authoritarianism. One should thus avoid putting all the blame on journalism liberal values for the crisis of journalism worldwide. The decrease of interest in public affairs actually runs much deeper and is a result of a series of factors which include the decline of the Enlightenment project, the increase in relativism, growth of cynicism, individualism and consumerism.
Arguably, clashes between the market and the state have marked the contemporary years. The mid-80’s onwards saw the Brazilian media regain its political independence with the end of the dictatorship in 1985. The decade of the 90’s saw also the definite consolidation of market-oriented news practices in newsrooms in the light of the emergence of the market as the main force of power in the post-dictatorship phase. The Brazilian press began to experience the tensions of attending to both citizenship and consumerism rationales, functioning as a restricted arena of debate of divided elites concerning the future direction that the country should take in the decade of the 90’s. Hallin and Papathonassopoulos (2003, 3) have identified similarities between the Latin American media and Southern European systems. Among common characteristics are: 1) the low circulation of newspapers; 2) the tradition of advocacy reporting; 3) the instrumentalization (political use) of privately-owned media; 4) the politicisation of broadcasting and regulation and 5) the limited development of journalism autonomy. All these points can be applied to the Brazilian media, although in the last years professionalism and balance have grown and advocacy reporting is slowly falling, but has not disappeared altogether, as the coverage of the 2006 presidential elections has shown.
Similar to European newspapers, dailies in Brazil have had a strong political tradition, something which has not been abandoned altogether in the contemporary years. Veteran journalists have elected the more militant active journalism style that resisted the regime as being superior to the current contemporary commercial US model that has predominated in the Brazilian media. The alternative press during the dictatorship functioned as a sort of political and literary sphere (Kucinski, 1991; Waisbord, 2000) and had in the alternative papers O Pasquim and Opinião their main representatives. These flourished during the dark years of the regime in Rio and São Paulo, with most of these dailies ceasing to exist after the end of the regime. The state controlled the media widely during these years, a fact which undermines also the nostalgic stories of press resistance to the dictatorship, something which occurred more sporadically. Most of the mainstream media at that time preferred to engage in heavy official reporting than challenge military generals. The rule was cooperation between media firms and journalists with the government and not confrontation. Thus because of fears of censorship, the mainstream dailies such as Estado de São Paulo (ESP), Folha de São Paulo (FSP), O Globo and Jornal Brasil, the ones which I have examined in the case studies of my research, found difficulties in conducting critical political reporting. This slowly started to change from the mid-80s onwards, with the direct elections campaign of 1984 and the support given to it by the daily FSP for instance indicating that the media were slowly assuming a new relationship of critique of public authorities and the structures of the state.
With the collapse of the dictatorship, press exposés on corruption and abuses of power left the domain of alternative newspapers and were incorporated by the mainstream media as a major trend of contemporary journalism (Waisbord, 2000). The last years have thus seen the increase of the publication of stories on government corruption, with politicians having been made more accountable at the same time that market pressures and the pursuit of personal prestige by journalists has led to the rise of denuncismo journalism (journalism of denunciation) and the increase of cynicism. Opposing debates also emerged concerning the extent of the contribution of journalists to the democratisation process. Radicals critiques have tended to be nostalgic of a supposedly “golden era” of journalism of critical debate that existed in the 1970’s in opposition to what they see today as being a highly market-driven environment. They tend to see the media in basically class terms and as being a mere reproducer of the values of the ideological apparatus, thus minimising the advancements that occurred in the journalism field in the last years and the contributions of journalists. Other journalists that I interviewed – and including myself, as I share this position – have tended to opt for a more “realistic” position, seeing the complexity of the various forces at play (the market, the state, civil society and journalism) and the influence that each had on the media in the context of the advancements and resistances that occurred throughout the years.
Objectivity and professionalism during this period contributed for a fairer and a more complex portrayal of Brazilian politics and society. Similar to the emergence of the objectivity regime in the US during the 1920’s, professionalism in Brazil can be seen as a progressive ideology which undermines partisan media. Professionalism permitted the Brazilian media to attempt to be more inclusive and sophisticated. Contrary to the US and the UK, who have built their communication systems under a strong tradition of media independence, the Brazilian media has encountered difficulties in consolidating the Anglo-American commercial model. The development of the freedom of the press arrived late and is still being fortified. According to Schudson, after the First World War a more sophisticated understanding of objectivity arouse grounded on beliefs that human beings cannot be objective, so they must strive to reach certain standard norms and practices. The rise is also linked to the dominance of scientific thought in Western civilizations, seen as vital for publishers who did not want to alienate readers and a necessity for journalists who wanted their work to be taken seriously. By the 1960’s, this value was an emblem of American journalism. Today the regime of objectivity has began to be wrongly criticised by radical critics in the West (i.e. Schudson, 1978; Hackett and Zhao, 1998), who seem to take liberalism and free speech too much for granted.
Professionalism can be experienced in Brazil as being a double-edged sword. It can be empowering at times of pressure from market forces or from governmental bodies, affording them more editorial autonomy, but it can function also as a tool that can be used by media firms to control the behaviour of journalists (Hallin, 2000; Curran, 2000, Soloski, 1989). According to Soloski (1989, 1991, 310), news professionalism controls journalists through the setting of rewards. Professionalism also means different things to different people (Curran, 1996, 101). The sensitivity of many journalists during the dictatorship period to the need to fight the regime was substituted in the re-democratisation period and further onwards for a professional pragmatism combined with an understanding of their role as journalists who can serve the public by engaging in investigative reporting, addressing social issues in the news pages and making use of professionalism. Journalists in Brazil since the 80´s have thus been caught in an endless dilemma, paying lip service to the professional model identified with American journalism, with its insistence on detachment, while also struggling with other progressive readings of professionalism and with partisanship and democratic militancy. Furthermore, if on one hand professionalism gave new credibility and seriousness to the journalism profession in Brazil on the other it put the journalist on a similar level to other liberal professionals.
Lichtenberg is one of the scholars who has revisited the objectivity debate and made a defence of it. For her objectivity is crucial if we aim to interpret and report a highly complex and changing world. It is also a way of permitting us to judge if one news story is ‘better’, or presents a more coherent and analytical picture of reality, than another. According to her (2000, 238), the main attacks on objectivity come from critics who say that the media have misrepresented their views, which implies that fairness can be achieved somehow. Arguably, it was precisely balance and fairness in political reporting that social groups and centre to centre-left-wing politicians who fought for democracy wanted from the Brazilian media. My research has pinpointed the differences between the “better” stories which portrayed the Brazilian reality in all its complexities to the more partisan and ideological pieces in the in-depth investigation that I carried out on the political campaigns and presidential elections of the post-dictatorship phase (1984-2002). These included the 1984 direct elections campaign; the first presidential elections of 1989 followed by the 1992 impeachment; the elections of 1994, which elected Fernando Henrique Cardoso and occurred amid the launch of a stabilisation plan and the 2002 contest which elected the first left-wing government since the 1964 military coup.
During the contemporary phase multiple journalism identities coexisted in newsrooms. The tradition of opinionated journalism maintained its influence, with Brazilian journalism being also shaped by various international journalism trends and infotainment techniques. Liberal market democracy has thus paved the way for the expansion of confrontational reporting, with the growth of the watchdog function and critique of authority being seen as important democratic tools for societies that until recently were highly submissive towards government. Thus despite all of its faults, the media provide Brazilians today with more sophisticated, analytical and critical information than before, with less representation of politics in strictly partisan terms. Balance thus functioned to impede the publication of false news and prejudices that could serve to maintain privileges. As I have argued also, the media to a certain extent also regressed, suffering from the (negative) impact of international journalism trends of infotainment and witnessing an expansion in media concentration due to excessive commercialization. These factors raise concerns again in relation to the limits that can be placed on the strengthening of the public debate arena which has been constructed with a lot of struggle. It stimulates debates on the fortification of a public media sector capable of serving as a counter-weight to the predominance of the commercial sector in the communication field as well as on the necessity to boast the creation of a complex communication system which can attend to the multiple interests of Brazilian society.
References
Baker, C. Edwin (2002) Media, Markets and Democracy, Cambridge: Cambridge University Press
Bardoel, Jo (1996) “Beyond Journalism: A Profession Between Information Society and Civil Society” in Tumber, Howard (ed.) News: A Reader, Oxford: Oxford University Press, p. 379-393
Brandford, Sue and Kucinski, Bernardo (1995) Brazil – Carnival of the Oppressed, Nottingham: Russel Press
Calhoun, Craig (eds.) (1997) Habermas and the Public Sphere, Cambridge, Massachusetts and London: MIT Press, p. 1-50, 73-143, 359-402
Curran, James (2002) “Media and Democracy: The Third Way’’ in Media and Power, London: Routledge, p. 217-248
Foucault, Michel (1972) The Archeology of Knowledge, London: Verso, p. 21-76, 79-88, 141-148, 166-177
Hackett, Robert A. and Zhao, Yuezhi (eds.) (2005) Democratizing Global Media – One World, Many Struggles, Lanham, New York and Oxford: Rowman & Little Field Publishers, Inc., p. 1-37
Hallin, Daniel C. and Mancini, Paolo (2004) Comparing Media Systems – Three Models of Media and Politics, Cambridge: Cambridge University Press, p. 1-17, 21-86, 251-306
Herman, Edward S. and Chomsky, Noam (2002) Manufacturing Consent – The Political Economy of the Mass Media, New York: Pantheon Books, p. 1-37, 87-143
Lichtenberg, Judith (1991) “In Defence of Objectivity Revisited” in Curran, James and Gurevitch, Michael (eds.) Mass Media and Society, Arnold: London, p. 238-255
segunda-feira, 7 de maio de 2007
Walter Salles: um passeio pela alma do Outro
Olhar da Câmara
Carolina Matos*
Diretor de pérolas nacionais aparentemente tão distintas como A Grande Arte e O Primeiro Dia, Walter Salles as une pelo interesse na possibilidade do diálogo e do encontro, temas essenciais num cinema onde o ser humano é o centro e a tecnologia existe para criar um canal que possibilita a troca de afeto e o olhar compreensivo, à luz da indiferença contemporânea dos espaços pós-modernos. No espaço saliano, o registro do Outro é feito sem pieguices e sentimentalismos baratos e é imerso num tempo filosófico que evidencia uma carga emotiva que nada mais é que existencialismo no seu estado mais puro.
Essa câmera humana acompanha Salles e faz de certos filmes nacionais um campo de resistência e conflitos, de contradições, diálogos e busca. É dentro dessa visão que Salles descarta o "cinismo cinematográfico" predominante no início dos anos 90, influenciado por cineastas como Quentin Tarantinom, e procura "captar uma geografia física e humana" própria. "Filmes tão diferentes quanto Festa de Família, O Gosto das Cerejas ou Nenhum a Menos têm um ponto comum: o interesse, a compaixão pelo outro, aquele que é diferente de você. Este é o cinema que me interessa", frisa Salles.
Fórum - A indústria cinematográfica brasileira lançou 31 filmes no ano passado, o que representa 9% do mercado. O público cresceu de 2,6 milhões em 98 para 5,2 milhões em 99. Apesar disso, não parece que o cinema nacional está muito otimista....
Walter - A instabilidade da industria cinematográfica brasileira não deixa de ser o reflexo do próprio país. Como no mito de Sísifo de Camus, há momentos em que nos aproximamos do topo da montanha, de uma situação de equilíbrio, para depois perdermos novamente terreno, muitas vezes por razões exógenas à produção cinematográfica. O que explica a resistência do cinema brasileiro, o que explica o fato que ele sobreviveu a desastres como o de Collor? A resposta está na incrível intuição que existe para a imagem no país. Apenas seis meses depois da primeira exibição do cinematógrafo na França, em 1895, ocorria a primeira exibição de cinema no Brasil. Em 1909, produzimos mais de 100 filmes no país, um número impressionante (ficções e documentários). E só abrimos as portas para os filmes estrangeiros quando a industria brasileira deixou de produzir imagens por falta de negativo, durante a primeira guerra mundial. Essa oscilação persiste até hoje.
Fórum - No ano passado, Central do Brasil quase levou o Oscar. Este ano foi a vez do filme Orfeu, de Cacá Diegues, concorrer na categoria de melhor produção estrangeira junto com outros de peso como o Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar. O fato de filmes nacionais estarem tendo uma maior repercussão no exterior entre o grande público e fora dos restritos festivais de cinema não é um empurrão no crescimento das produções nacionais daqui para frente?
Walter - Não creio que devemos pautar o cinema brasileiro pelo sucesso ou insucesso nos festivais internacionais. Central do Brasil ganhou 52 prêmios, a grande maioria fora do país. Não digo que esses prêmios não tenham sido importantes para a carreira do filme ou para o reconhecimento do cinema brasileiro. Penso apenas que devemos nos preocupar antes de tudo em captar uma geografia física e humana que nos é própria, com integridade, e não fazê-lo para ganhar prêmios.
Fórum - As verbas de R$ 3, 5 milhões anunciadas pelo Ministério da Cultura para os filmes de baixo orçamento até o ano 2001 são de fato um estímulo, ou podem vir a dificultar a produção de obras mais ambiciosas?
Walter - Uma cinematografia só se afirma e se desenvolve com experimentação. Sou a favor do financiamento para obras de cineastas estreantes ou experimentais. É uma medida essencial para oxigenar a produção cinematográfica de qualquer país.
Fórum - Conta um pouco sobre o seu novo filme. Sobre o que se trata e a que pé anda a produção?
Walter - Devo começar em breve a filmar a adaptação de um livro de Ismail Kadaré, Abril Despedaçado, no sertão brasileiro.
Fórum - O cinema nacional foi marcado por fases e movimentos, como o Cinema Novo e as pornochanchadas. Parece que hoje está havendo um boom de documentários, com sucessos como Os Carvoeiros, Santo Forte e Nós que aqui Estamos por vós Esperamos....
Walter - Não é apenas uma tendência brasileira, e sim mundial. Veja a repercussão de Buena Vista Social Club ou de American Movie. A tradição do documentário no Brasil não é, alias, um fenômeno recente. Desde o início do século passado, documentaristas brasileiros têm se preocupado em mapear o país. Só na nossa produtora, temos hoje 14 documentários em produção, incluindo Casa Grande e Senzala, de Nelson Pereira dos Santos e o novo filme de Coutinho.
Fórum - Central do Brasil é bastante influenciado pelo clássico do neorealismo italiano, o filme de De Sica Ladrões de Bicicleta. Você inclusive já se definiu como um diretor exponente de um "novo" neorealismo.
Há adeptos deste "movimento"?
Walter - Pessoalmente, acho que Central do Brasil é mais próximo de filmes de estrada como Alice na Cidade, de Wenders, do que do neo-realismo italiano. De qualquer forma, tive uma educação cinematográfica polifônica e acabei sofrendo influência de gêneros muito diferentes. Dos diretores italianos, Antonioni é o meu preferido, embora tenha grande admiração por Rossellini ou De Sica. A trilogia da identidade de Antonioni (Blow-Up, Passageiro Profissão Repórter e Zabriskie Point) me marcou profundamente. Prefiro falar do renascimento de um cinema humanista, em oposição ao cinismo cinematográfico que imperou no início dos anos 90, sobretudo sobre a influência de Tarantino. Filmes tão diferentes quanto Festa de Família, O
Gosto das Cerejas ou Nenhum a Menos têm um ponto comum : o interesse, a compaixão pelo outro, aquele que é diferente de você. Este é o cinema que me interessa.
Fórum - Documentários como Santo Forte soam como reciclagens do ideário "câmera na mão, participação de pessoas simples e baixos custos". O próprio tema da religião foi algo que inquietou diretores do neorealismo italiano, como Roberto Rossellini e Frederico Fellini, e está sendo bastante explorado em produções atuais.
Walter - Sim, mas é bom lembrar que as pessoas citadas tiveram visões diametralmente opostas da questão religiosa.
Fórum - Ao expor o vazio existencial da classe média somado ao caos urbano da cidade partida, O Primeiro Dia parece enveredar pelo caminho de um niilismo pós-moderno, que se distancia dos valores únicos pregados pelo neorealismo. A Grande Arte, um thriller policial, também teve essa marca. Você vê isso como uma estética forte no seu cinema?
Walter - O Primeiro Dia é um roteiro basicamente desenvolvido por Daniela Thomas que reflete em grande parte a preocupação com questões que lhe parecem essenciais no momento que estamos vivendo. Ao contrário de A Grande Arte, O Primeiro Dia não é niilista e sim um filme que acredita na possibilidade de um encontro, de diálogo, da aceitação do outro, daquele que é diferente de você, na cidade partida. É um tema, alias, que me parece essencialmente contemporâneo para quem vive no Brasil, e em nenhum momento
"pós-moderno".
Fórum - Como você situaria Terra Estrangeira?
Walter - Terra Estrangeira parte de um fato documental (o confisco absurdo perpetrado por Collor e o caos dele resultante) para mergulhar nos mesmos temas que você encontra mais tarde em Central do Brasil e O Primeiro Dia : o encontro entre diferentes, a descoberta do afeto, a possibilidade de se viver uma segunda chance.
segunda-feira, 30 de abril de 2007
Abra os olhos: você está num pedacinho do céu....
Não basta só abrir os olhos para se dar conta daquele cantinho do paraíso. Para desfrutar de todas as maravilhas das cinco ilhas do arquipélago de Abrolhos (BA) – Santa Bárbara, Sueste, Redonda, Guarita e Siriba - é necessário estar com todos os sentidos em estado de alerta. Os ouvidos deverão estar antenados para curtirem o barulho relaxante das pequenas ondas de um mar calmo, de águas cristalinas e rasas. A boca cuida dos prazeres da boa cozinha à bordo de algum catamarã ou barco. Mas são os olhos sem dúvida que levam a melhor: tartarugas, corais, chapeirões, badejos quadrados, naufrágio e atobás. Isso tudo sem falar na famosa baleia jubarte, que faz a festa dos turistas e pesquisadores durante julho a novembro, quando procura as águas mornas de Abrolhos para a reprodução.
A beleza natural das ilhas, os pássaros raros (as fragatas, grazinas, beneditinos e atobás), o pôr-do-sol exuberante e a riqueza da fauna marinha de Abrolhos não ficam devendo nada para Fernando de Noronha (RN), o seu rival mais famoso e segundo Parque Nacional do país. Recebendo uma média de 15 mil turistas por ano, as cinco ilhas compõem o primeiro Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, criado em 1983, junto com o Parcel de Abrolhos – onde o navio italiano Rosalina, filé mignon dos mergulhadores, afundou em 1939 – e o recife das Timbebas. Área de preservação ambiental do Ibama desde 1987, Abrolhos oferece vários atrativos que valem as 11 horas de viagem de carro para quem sai do Rio de Janeiro em direção a Caravelas, uma das cidades baianas que faz a ligação com as ilhas. Local com a maior biodiversidade marinha de todo o Atlântico Sul, Abrolhos reúne 95 espécies de peixes, mais de 700 baleias jubartes, 16 espécies de corais, inclusive o conhecido coral Cérebro (Mussismilia brasiliensis), os recifes de corais, denominados chapeirões, que crescem no fundo do mar em colunas na forma de imensos cogumelos, além de três espécies de tartarugas.
Engana-se quem espera encontrar pequenas lojinhas de artesanato, pousadas aconchegantes e um mínimo de small town life em Abrolhos. As principais atrações para o turista são proporcionadas pela própria natureza e incluem o mergulho autônomo no mar cristalino de Abrolhos, de temperaturas que variam de 24 a 28 graus, uma verdadeira aventura submarina e uma terapia antiestresse para aqueles que querem descobrir um cativante e novo mundo à parte da agitação da atual era da Internet. Os passeios ecológicos pelas ilhas de Siriba ou Redonda, as únicas permitidas pelo Ibama para a visitação, também são pedidos obrigatórios que completam o prazer do mergulho. Na Siriba, um guarda parque do Ibama recebe o turista para rodar a pé a ilha e conhecer o habitat do atobá branco e das grazinas, espécies de pássaros mais comuns na ilhota. Com o seu bico fino amarelado e com uma lista azul a baixo dos seus grandes olhos esverdeados, o atobá branco é facilmente reconhecível no seu ninho. Tanto o atobá branco como o marrom convivem em paz com as cabras, trazidas pelo homem na década de 70 para abastecer embarcações e agrupamentos da Marinha, dona da principal e maior ilha de Abrolhos, a Santa Bárbara.
Para quem vai para mergulhar – diga-se de passagem, o melhor pedido de Abrolhos, principalmente para os iniciantes -, o Ibama já entrega o seu manual de bom comportamento na chegada do turista á Santa Bárbara, também um dos principais pontos para o mergulho, no local conhecido como Mato Verde. Quem estiver muito ansioso para pisar em terra firme logo de cara é melhor se preparar antes, porque visitas à Santa Bárbara só são permitidas com autorização prévia da Marinha. Depois de pagar uma taxa de R$ 20 para o Ibama, é melhor prestar atenção às regras para o mergulho para depois não pagar mico - ou multa mesmo! Entre as recomendações principais do Ibama, estão a proibição de desembarque e mergulho nas ilhas Sueste e Guarito, o piso nos corais no fundo do mar, a molestação dos peixes e a caça submarina (ver mais no quadro). De fato, a rigidez do Ibama não é à toa: já foram detectados várias espécies de animais em extinção, com os frades e as aves marinhas. As baleias jubarte, por sua vez, já viveram dias piores. Trabalhos de conscientização promovidos por ONGs e pelo Projeto de estudos Baleia Jubarte conseguiram reverter a tendência de extinção das baleias. Se em 1989 contavam-se 150 baleias na região, hoje mais de 700 são identificadas por estudiosos. Durante julho a novembro, quando elas aparecem, é inclusive permitido ao turista fotografar os movimentos acrobatas das baleias, mas desde que seja a uma distância de 100 metros.
Além do Mato Verde na ilha Santa Bárbara, outros pontos de destaque para o mergulho são a caverna das Siribas, os chapeirões do Sueste e o naufrágio do Rosalina, um navio carregador de sacos de cimento, de aproximadamente 100 metros de comprimento e 20 metros de altura, que afundou em 1939 no parcel de Abrolhos. Com profundidades que variam de 10 a 18 metros, o mergulhador certamente irá se deparar com algum badejo-quadrado, frades, cardumes de salemas ou xereletes, uma tartaruga de mais de 1 metro de comprimento, caranquejos ermitões e colunas de corais em formato de arcos, fendas ou salões, que abrigam uma grande quantidade de algas, moluscos, esponjas e corais.
Um bom pedido para o mergulhador turista é passar pelo menos três dias embarcado num catamarã tipo o Horizonte Aberto, comandado pelo francês Jean Pierre Bouzeloc e sua tripulação. “Já tive mais de 20 pessoas à bordo”, diz Jean Pierre, no seu estilo sempre tranqüilo, bem-humorado e disponível. Para quem vem do Rio, uma boa dica é fazer um pacote com alguma escola de mergulho. A Fundos do Mar, por exemplo, faz viagens para Abrolhos nos feriados da Semana Santa e de Finados por R$ 760 parcelados em três vezes. Já o turista que não deseja mergulhar numa aventura submarina pode também optar por conhecer o arquipélago de escuna, ficando hospedado em terra firme, em Caravelas. A Abrolhos Turismo de Caravelas oferece pacotes variados, alguns incluindo o mergulho autônomo e outros apenas o passeio pelas ilhas do arquipélago de Abrolhos..
História e igrejas coloniais em Caravelas
Com aproximadamente 25 mil habitantes, Caravelas é aquela cidade pacata baiana que guarda vestígios de uma herança colonial em cada esquina. Casarões com azulejos portugueses em deterioração e a antiga estação ferroviária, hoje a rodoviária da cidade, são alguns emblemas deste passado colonial. Fundada em 1725, a estação ferroviária, por sua vez, marcou a iniciativa da cidade de se industrializar através do transporte de carvão. Para o turista que irá pernoitar em Caravelas, vale conhecer ainda a casa de veraneio dos pais de Rui Barbosa, um casarão malconservado com porta azul numa rua próxima a pequena Igreja Matriz de Santa Vigênia, construída pelos escravos em 1735.
Caravelas é uma das cidades mais antigas do Brasil. Aldeias de índios povoavam Caravelas antes da sua descoberta em 1503 pela triuplação comandada pelo português Américo Vespúcio. O nome da cidade foi escolhido por causa das caravelas marinhas encontradas nos rios. De fato, Caravelas é cortada por cinco rios, Caribé, Macaco, Cassumba, Gado e Caravelas e é rodeada por manguezais. A população da cidade vive principalmente de pesca e do turismo ecológico e do mergulho em Abrolhos. Antes de embarcar para o arquipélago, vale ainda uma visitinha à Igreja Matriz de Santo Antônio, construída pelos jesúitas em 1750 com óleo de baleia, pedras e areia, que fica na principal praça da cidade, de mesmo nome.
Recomendações do Ibama:
* É proibido o desembarque e o mergulho nas ilhas Sueste e Guarita
· É preciso pedir autorização do 2° Distrito Naval para visitar a ilha Santa Bárbara. As únicas ilhas que o turista poderá visitar são a Siiriba e a Redonda, com acompanhamento de um guarda parque do Ibama
· A caça e a pesca são proibidas
· Evite o uso excessive de sabão, xampu e detergente
· O lixo produzido, mesmo o orgânico, deve ser mantido no barco
· É proibido molestar ou estressar os animais, seja os peixes ou os pássaros
· O mergulhador deverá adotar um controle de flutuabilidade durante o mergulho autônomo e não deve usar luvas
· É proibido dar comida aos peixes
· Fique de pé apenas sobre fundo de areias e não pise nos corais
· Não se pode coletar material do mar (conchas, corais, pedras, etc)
· É bom verificar que a embarcação alugada está credenciada pelo Ibama
I. Onde fica
III. Cursos de Mergulho
Rio de Janeiro:
Fundos do Mar – Rua Sorocaba, 265, sala 205, Botafogo. Tel: 286-0822/9177-9244. Internet (http://www.domain.com.br/clientes/fundo).
Deep Blue – Rua Marquês de Olinda, 18, Botafogo tel: 553-1680/554-8031 e-mail: deepblue@openlink.com.br
Abrolhos Turismo – Praça Dr. Imbassahy, n. 08, Centro, Caravelas. Tels: (073) 297-1149/1332. Fax: (073) 297-1109. Endereço na Internet: http://www.abrolhosturismo.com.br
· Pousada Caravelense - tel: (073) 297-1182. Diárias de quarto duplo : R$ 35 (quarto com ventilador de teto) e R$ 40 (ar-condicionado).
· Farol Abrolhos Hotel Iate Clube – tels: (073) 297-1002/1173. As diárias variam de R$ 50 a R$ 100 durante a alta temporada, podendo ir para R$ 75 a R$ 25, na baixa temporada.
· Em Alcobaça:
Brisa de Abrolhos – tel: (073) 293-2022. Diária para quarto duplo: R$ 40.
VI. Mais informações:
segunda-feira, 2 de abril de 2007
Praga: a joía de ouro da Europa Central
Carolina Matos
Praga não pode ficar de fora de nenhuma lista de capitais européias que conjugam charme artístico, beleza arquitetônica e entretenimento inteligente em perfeita harmonia. Os encantos são múltiplos e deixam qualquer turista com água na boca e aquele gostinho de quero mais. Não é raro, por exemplo, entusiasmar-se com uma apresentação à noite de um grupo de coral na ponte de Carlos, um dos mais famosos símbolos históricos de Praga, capital da República Tcheca e ex-Tchecoslováquia. Cidade de Franz Kafka (1883-1924), que cultivava uma relação de magia quase sombria com o lugar onde nasceu, Praga é como aquela mulher madura que ainda mantém o seu charme sereno e cativante dos anos da juventude. Kafka incluisve enveredou-se por uma definição parecida e comparou Praga à uma “velhinha que tem garras.” Já o compositor Wagner a via como “incomparável”, enquanto o poeta alemão Goethe a descrevia como a “mais bonita joía na coroa da Boêmia.” Para o turista, Praga é isso e muito mais: é um banho de história e cultura, é um passaporte de entrada no mundo do Leste Europeu.
Cidade com aproximadamente 1,2 milhão de habitantes, Praga hoje tornou-se um centro da indústria do comércio e de finanças, o que a credenciou a bater nas portas da Comunidade Européia e pedir para ser um membro. Mas é sem dúvida no quesito cultura que Praga pode se orgulhar. Desde 1992, o núcleo histórico – formado pelas antigas cidades independentes do século XVIII, Stare Mesto (Cidade Velha), Josefov (Bairro Judeu), Nove Mesto (Cidade Nova), Mala Strana (Bairro Pequeno) e Hradcany (Castelo de Praga) - foi incluído na lista do Patrimônio Cultural e Natural Mundial da Unesco. A União Européia já outorgou à Praga o título de uma das nove metrópoles da cultura do ano de 2000. Os mais de 26 teatros, 50 museus, 100 galerias, inúmeros cafés e restaurantes e marcos históricos no centro confirmam o prestígio kafkiano da capital tcheca.
Um ótimo começo é visitar o complexo de prédios do Castelo de Praga, que conta um pouco da história do país. O turista pode saltar na estação de metrô Staroméstská, atravessar para o outro lado do rio Vltava e pegar a pitoresca Rua Nerudova em direção ao complexo do Castelo. É bom ficar atento para a seleção de símbolos e emblemas nas casas da Rua Nerudova, como o cisne branco no número 49. A Catedral de St. Vitus é um exemplo de brilhantismo arquitetônico. De estilo gótico, a catedral foi fundada pelo príncipe Wenceslas e tornou-se um lugar de peregrinação depois do seu assassinato pelo irmão em 955. Os trabalhos na catedral iniciaram-se com Carlos IV em 1344, durante a dinastia dos Luxemburgos, e hoje pode-se conferir algumas pérolas, como a capela de St. Wenceslas e o anel de bronze na porta, onde Wenceslas teria se agarrado enquanto morria.
Vale ainda visitar o romanesco Palácio Real, assento dos príncipes boêmios, e conhecer o salão gótico Vladislaw. A famosa defenestração de 1618 aconteceu no Palácio Real. Na ocasião, cerca de 100 nobres protestantes marcharam dentro do palácio e enfrentaram dois governadores católicos, que foram atirados pela janela. O Palácio Sternberg, um exemplo do barroco em Praga, abriga a galeria nacional e reúne uma vasta coleção de arte européia. Outra magnífica construção barroca é a Igreja de St. Nicholas, construída em 1703 e onde Mozart tocou em 1787. Ela é localizada no chamado Bairro Pequeno, ao lado do complexo do Castelo. A Praça da Cidade Velha é um outro charme de Praga. Os seus cafés ao ar livre são convidativos, assim como a Câmara Municipal Velha - uma coleção de prédios de estilo gótico e renascentista - atrai a atenção de milhares de turistas para a procissão, a cada hora, dos 12 discípulos do relógio astronômico. Uma figura que representa a Morte sai primeiro e puxa a corda que carrega na mão direita. Depois duas janelas acima do relógio se abrem e os apóstolos, liderados por Pedro, aparecem. Muitos acomodam-se nos cafés da praça e agarram-se às suas máquinas para tentar registrar a cena. O próximo pedido é visitar a Igreja de Nossa Senhora Antes de Tyn ao lado e contemplar as suas maravilhosas torres góticas.
A ponte de Carlos é outro marco histórico importante. Fundada em 1357 por Carlos IV, a ponte é fortificada por duas torres em ambos os lados (no Bairro Pequeno e na Cidade Velha). Hoje serve de point para performances de rua e venda de objetos de artesanato de artistas tchecos. Para quem quer conhecer um pouco da história da ocupação nazista de Praga e da perseguição aos judeus praguenses, como o próprio Kafka, é bom visitar a Velha Nova Sinagoga e o Cemitério Judeu do outro lado do rio Vltava, atrás da exuberante casa de concerto, o Rudolfinum. Com a ocupação do exército alemão na Segunda Guerra Mundial, Praga passou por quatro décadas de comunismo, tornando-se independente de novo apenas em 1989 com a Revolução de Veludo e as eleições livres. Exemplos clássicos do nacionalismo praguense são o Teatro e o Museu Nacional.
Praga respira sobretudo cultura e carrega um forte legado artístico. Além dos símbolos kafkianos, como a Galeria de Kafka na Praça da Cidade Velha e as lojas que vendem todo tipo de souvernir do escritor do “mal so século”, há inúmeras peças de teatro e shows acotencendo pela cidade. Os jornais bilíngües Prognosis e The Prague Post dão informações sobre os principais eventos, mas vale procurar assistir a alguma apresentação do grupo de Teatro Negro Jirí Srnecs, uma tradição praguense que consiste em atores movendo objetos contra um palco negro sem serem vistos. De maio a junho, a cidade sedia o famoso Festival de Música. No verão, é a vez do Festival de Mozart.
Quando o assunto é comida, Praga também oferece boas opções além dos cafés da Praça da Cidade Velha. O Café Savoy no Bairro Pequeno, por exemplo, onde Kafka costumava freqüentar entre 1910-11, tem um pequeno cardápio de sanduíches a preços razoáveis. É possível ter uma vista maravilhosa de Praga do restaurante Nebozízek, um popular estabelecimento próximo ao Castelo onde pode-se experimentar um pouco da cozinha tcheca, que inclui salsichas, porco, sopas e carnes com uma massa feita de pão e batata como acompanhamento. E para fechar a viagem com chave de ouro, vale ver a bela mulher madura do alto do Parque Petrín e apreciar o seu eterno jeitinho sublime de ser.
Como Chegar
Há vários pacotes para a Europa do Leste e vôos só para Praga:
* Varig – Vôos diários com escala em Frankfurt, Paris e Londres. Na baixa temporada, até 30 de abril, o preço da paisagem sai por US$ 869 (R$ 1.535). Na alta temporada, de junho a julho, o valor é US$ 1.473 (R$ 2.602). tels: 282-1319/534-0333
* A CN Tours Travel faz o pacote da Europa do Leste (Viena/Praga/Budapeste – nove dias e sete noites) por US$ 1.375 até o dia 31 de março. A Air France faz vôos só para Praga por US$ 942, nas terças, sextas e nos domingos. É bom tirar não só o visto para Praga, mas para Budapeste e Slovákia se o turista desejar viajar depois de trem pela Europa do Leste. Tel da CN: 220-4226.
* A Ully Tour também faz vôos para Praga por US$ 799, pela KLM com escala em Amsterdam ou pela Alitália com parada em Roma. Promoção válida até o dia 29 de abril. Tel da Ully: 507-0327/834-7581.
Onde Ficar
Axa – Na Porici 40, 110 00, Cidade Velha. Este hotel de estilo antigo pode parecer decepcionante, mas é central e barato. O bom é a piscina no porão. Preços variam de kc2.000-3.000 por um quarto duplo com café da manhã, de acordo com a temporada. tel: 24 81 25 80.
Kampa – Vsehrdova 16, 118 00, Bairro Pequeno. Antigo arsenal do século 17, o Kampa fica a cinco minutos da ponte de Carlos, escondido numa rua calma, cercada de árvores. Hotel de excelente valor. O preço do quarto duplo mais o café da manhã varia de kc2.000 a 3.000. tel: 24 51 04 09.
Evropa – Václavskí námestí 25, 110 00, Cidade Nova. A extravagância do hotel chama a atenção na Praça Wenceslas. É o hotal mais bonito de Praga, com uma decoração de arte nouveau exemplar. Preços: kc2.000-3.000. tel: 24 22 81 17.
Onde Comer
Peklo (Inferno) – Strabovské nádvorí 1, Castelo de Praga. Um restaurante construído num porão de cerveja do século 12. Comida italiana a preços não muito baratos (acima de kc 500), mas vale a visita.
Nebozízek – Petrínské sady 411, Bairro Pequeno. O restaurante vale pela vista espetacular sobre Praga e pela comida típica praguense. Preços variam de kc 300-500.
Mikulka’s Pizzaria – Benediktská 16, Bairro Judeu. A primeira pizzaria de Praga depois da revolução, Mikulkás é popular com a comunidade estrangeira, mas oferece comida de qualidade a preços baixos, de kc 175-300.
Café Savoy – Vitezná 1, Bairro Pequeno. Pequena seleção de deliciosos sanduíches a preços acessíveis, variando de kc175-300.
Jericoacoara: misticismo e poesia no litoral cearense
Carolina Matos*
O poeta romântico inglês John Keats (1795-1821) já dizia que o belo é um prazer eterno. É difícil cansar a vista com as graciosas dunas à beira da praia, o sussurar do vento e o brilho das lagoas de águas cristalinas no vilarejo de Jericoacoara, a 300 quilômetros de Fortaleza (CE). Há quem diga que as belezas naturais de Jeri são obra divina, ou que lembram ainda cenas de filmes, como o célebre A Ostra e o Vento (1998) de Walter Lima Jr., que explorou a sensibilidade do contato de uma criança com a natureza através da menina Marcela. Não é à toa que a atriz americana Natalia Cigliutti, 21 anos, diz ter visto tanta beleza apenas em movies. “Estou abismada. Achava que lugares assim só existiam em filmes”, revela boquiaberta a morena de pele clara, enquanto admira a imensidão das dunas e o vaivém das ondas em cima de um buggy a caminho de Jeri.
Mas Jericoacoara não é filme hollywoodiano nem cinema nacional. O contemplativo pôr-do-sol na duna grande, a deslumbrante Lagoa Paraíso e o astral relaxado e espiritual do vilarejo são tão reais quanto aquela velha figura literária do humilde pescador que parou no tempo e no espaço. A fusão destas realidades peculiares talvez tenha contribuído para Jericoacoara ganhar o título de uma das dez praias mais belas do mundo, de acordo com uma pesquisa do jornal americano The Washington Post.
O visual caribenho de Jericoacoara parece ter provocado uma febre entre os viajantes de carteirinha. Já deram as caras por lá gente famosa, como a apresentadora Xuxa, a atriz Debora Bloch e o presidenciável Ciro Gomes (PPS). O local também virou meca para publicitários filmarem comerciais. Felizmente para o turista politicamente correto, todo esse frisson ainda não foi capaz de tirar a magia de Jericoacoara, que mantém o seu espírito aventureiro e a sua característica de pequeno vilarejo que resiste ao progresso predatório. Área de Preservação Ambiental (APA) desde 1984, Jericoacoara deve a sua conservação ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que impõe restrições para a construção de pousadas e hotéis e impede a circulação de buggys em várias dunas.
Chegada _ Não é demais dizer que Jericoacoara já vale a visita só pela aventura de se chegar até o paraíso. Cantinhos do céu não costumam ser de fácil acesso, e com Jeri a situação não é diferente. Desde novembro do ano passado, no entanto, o vôo diário de Fortaleza a Camocim realizado pela operadora Correta Turismo já facilitou bastante a ida a Jericoacoara. Do avião, o turista já consegue captar as belezas naturais do litoral cearense. É possível observar as dunas e as suas variadas cores – ora rosadas, ora brancas - sentado à esquerda do pequeno Bandeirante bimotor com capacidade para 14 pessoas.
Depois de uma viagem de aproximadamente 50 minutos a bordo do Bandeirante, o turista inicia a aventura pegando um buggy ou um jipe 4x4 com o bugueiro, guia e ex-engenheiro João Sarmento para fazer o translado a Jeri, que dura quase duas horas. É bom admirar as riquezas deste trecho. O percurso inclui atravessar de balsa ou barco lagoas para se chegar à Ilha do Amor e a Tatajuba, e ainda percorrer o litoral a bordo de um buggy, que passa pulando por cima de enormes dunas. É difícil não conter a alegria a cada salto de montanha-russa do buggy, além dos “ahs” de admiração na passagem pelas praias desertas e selvagens. Antes do vôo para Camocim, o caminho para Jericoacoara era bem mais penoso. Um ônibus saia de Fortaleza com destino a Gijoca e só chegava lá depois de seis horas. Depois, um buggy completava o percurso até Jeri.
Pôr-do-sol _ Uma das principais atrações de Jericoacoara é o pôr-do-sol na gigantesca duna logo na entrada do vilarejo. É programa obrigatório de moradores e turistas irem ver o pôr-do-sol todo fim de tarde. As peripécias em cima da duna competem com a beleza da vista para a imensa e calma praia lá em baixo. Há atrações para todos os gostos: desde surfistas de areia até a capoeiristas ou jovens atletas dando cambalhotas no ar durante a descida da duna. A lentidão das ondas, o cantarolar dos grilos e o assobio da brisa - o vento forte mesmo bate de julho a dezembro – completam o cenário paradisíaco de Jeri. Formam um cardápio ideal para quem quer encontrar um refúgio para lavar a alma.
Outra atração cartão-postal é a Pedra da Furada, um arco esculpido pela ação das ondas e que fica situada na região rochosa de Jericoacoara, depois da praia da Malhada. Esta última praia de ondas curtas é procurada para a prática de windsurf no período de julho a setembro, quando windsurfistas de todo o mundo juntam-se para participar da seleção para o Campeonato Mundial. A praia da Malhada é o local preferido dos banhistas, assim como as águas cristalinas das lagoas Paraíso, Azul e Caiçaras, que oferecem uma visibilidade de cerca de 10 metros. Vale passar um dia percorrendo as lagoas, passando pela estonteante Lagoa do Paraíso ao sul de Jeri, que tem 15 quilômetros de extensão e é cercada por pequenas dunas. Mais adiante, o turista chega na Praia do Preá, limite leste da APA e principal referência para a pesca do peixe característico da região, o pargo.
Lagoas _ A caminhada até a Pedra Furada é de tirar o fôlego: passa-se por cavernas, pedras em formato de bichos, como a do jacaré na Praia da Repartição, e por piscinas naturais, como a da Princesa. Lendas populares afirmam que o banho na piscina da Princesa, de 1.70 metros de profundidade, dois de altura e cerca de 1.20 de largura, rejuvenesce as mulheres em cinco anos. A noite de Jeri também não deixa a desejar. Com um ar de cidade de veraneio, o turista pode desfrutar de bons restaurantes e bares em meio a danças de forró no Mama da Égua. Pode-se ainda balançar o esqueleto ao som de reggae e rock no Mama Áfrika, ou ainda comer um crepe acompanhado de uma cerveja no Naturalmente, restaurante de frente da praia. O Barraco do Alexandre, que já pertenceu ao apresentador de TV Olivier Anquier, oferece frutos do mar, o carro-chefe da culinária local. A parada final e obrigatória é a padaria do Seu Antônio, que abre no inusitado horário das 2 horas da manhã para vender pão quente e café para curar aquela ressaca. Em Jeri, é bom abrir bem os olhos para aproveitar a sua beleza eterna.
Com pesca fraca, capoeira e folclore movimentam Jeri
Amarildo Marques Vasconcellos, 27 anos, deu a sua primeira cambalhota de costas na Duna do Pôr-do-Sol aos 12 anos de idade. Desde então, o filho do lendário Seu Antônio da padaria não faz outra coisa todo fim de tarde. Já virou inclusive atração turística da cidade. Amarildo das Dunas, como prefere ser chamado, também dá aulas de capoeira para a garotada de Jeri e elabora performances artísticas com o peruano Tuto Merello, 45 anos, numa curiosa fusão de ingredientes afro-brasileiros com ritmos indígenas. “Não quero praticar capoeira só para turista ver. Estamos estimulando nas crianças o senso de preservação ambiental e ensinando a cultura da capoeira”, insiste Amarildo.
Assim como Amarildo, há vários moradores em Jeri lançando mão da criatividade para construir um significativo espaço cultural no vilarejo em oposição à tradicional cultura da pesca A dona do restaurante Mama na Égua, a gaúcha Cecília Souza Steiner, não se limita a especialidades como o peixe a pargo. O Mama na Égua sedia noites de típico forró nordestino nos fins de semana e também matinés e concursos para as crianças aos domingos.
O artista plástico e dono do bar Doidos Atelier César Pitombeira, 40 anos, é outra figura folclórica de Jeri. Morador da praia da Malhada, a sua “décima praia”, Pitombeira garante que dali só sai para ir para o cemitério ao lado. Enquanto isso, acorda às 5h30 da manhã para trabalhar nos seus quadros abstracionistas, que já foram expostos em Nova Iorque, Itália, França e Alemanha. Outras figuras curiosas de Jeri são a doceira Dona Angelita, 54 anos, que vende doces e cocadas a R$ 1 pela vila vestida com um enorme chapéu amarelo, e o pescador Chico Onório, 70 anos. Acostumado a acordar às 2 horas da manhã para ir pescar, Chico já teve sete mulheres e é pai de 32 filhos. Ele garante que “comparece” toda noite e aponta o caldo do peixe “boca roxa” como o responsável por tanta vitalidade.
Pesca em extinção _ De memória falha e fala mansa, dona Rita José Ferreira, 77 anos, costura calmamente a rede de pesca junto com a amiga Maria Martins de Oliveira, 45 anos, seguindo uma tradição da avó e da mãe, mulheres de pescadores. Nascida e criada em Jericoacoara, dona Rita é neta de um dos primeiros moradores do vilarejo. Quando este chegou em Jeri ainda no século XIX, havia no máximo seis casas. Hoje, Jericoacoara possui aproximadamente 1,500 habitantes e cerca de 60 pousadas. Até 1985, era uma pequena aldeia de pescadores, perdida entre dunas imensas e isolada do mundo. Hoje, Jeri é um dos principais points turísticos do país. Dona Rita é nostálgica e reclama que a pesca e as redes não têm mais tanta importância. “A rede perdeu o valor”, diz, quase em cochichos.
O boom turístico em Jericoacoara começou há dois anos e meio depois da chegada da luz elétrica. Antes, os moradores viviam com lampiões ou velhas dentro de garrafas de plástico para o vento não apagar. No entanto, há pescadores que comemoram os vestígios de progresso em Jeri, como é o caso do pescador Antônio de Oliveira, 50 anos. “Estou me sentindo mais valorizado. Consigo melhores preços e os restaurantes compram”, garante Antônio.
Origens do nome - Embora modesta, Jericoacoara também teve a sua participação na história do Descobrimento do Brasil. Em direção ao noroeste do país, o navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón, nascido em Palos em 1460 e integrante da frota que descobriu a América sob o comando de Cristóvão Colombo, descreveu Jericoacoara em 1492 como um “rosto formoso”. O governador geral do Brasil, Gaspar de Sousa, organizou a expedição chamada “Jornada do Maranhão” com o objetivo de combater a invasão dos franceses. Jerônimo de Albuquerque, encarregado da expedição, fundou ao pé do serrote de Jericoacoara o forte Nossa Senhora do Rosário.
Segundo o historiador Pompeu Sobrinho, foi só no começo do século XVII que o nome da vila foi registrado, mas provavelmente já existia no século XVI. A grafia de Jericoacoara também intrigou vários viajantes no século XVII. Seria Jericoacoara, Jeriquaquara ou Jaracoara? Em 1615, o capitão-mor Alexandre Moura, da “Jornada do Maranhão”, fez referência a “Gericoacoara” em seu roteiro enquanto Gaspar de Sousa preferiu escrever “Jaracoara”.
Há três versões para a origem do nome “Jericoacoara”. A origem tupi-guarani, interpretada por Teodoro Sampaio, diz que o nome é proveniente de “ yurucua” (tartaruga) e “cuara” (buraco), ou seja, “buraco das tartarugas”, uma alusão a presença de tartarugas nas águas da enseada de Jericoacoara na época da desova. Alguns pescadores já asseguram que o nome vem do formato do “serrote” (pequena serra ao lado da vila, onde está situado o farol de Jeri), que visto do alto mar assemelha-se a um jacaré deitado, ou “cuarando” ao sol (expressão local). Por muito tempo, Jeri era chamado só de Serrote, depois passou a ser Jericoacoara em decorrência do advento do turismo.
Onde Comer
Naturalmente – As especialidades deste simpático restaurante na enseada de Jeri são os crepes salgados e doces. Os preços variam de R$ 3 a R$ 8. Vale conhecer o Cesinha (catupiry, tomate e manjericão), que sai por R$ 5.50 e o doce Mila (chocolate, banana e sorvete), por R$ 5.50.
Espaço Aberto – Pratos de R$ 20 podem ser divididos por duas pessoas. As especialidades são o econômico peixe ao molho verde (a base de abacate com ervas), que sai por R$ 9, e os pratos com camarão, que variam de R$ 20 a R$ 25.
Mama na Égua - Este espaçoso e animado restaurante à beira mar ofecere pratos típicos da região, como o peixe inteiro frito, o pargo, (com arroz, feijão, salada e farofa) por R$ 12.00, tamanho médio, e o famoso moqueca de arraia, que sai por R$ 6.00.
Pousada e Restaurante do Paulo - Localizado em frente a bela Lagoa do Paraíso, as especialidades deste restaurante são o peixe no limão (frito com conhaque e ervas aromáticas) por R$ 17.00, e o assado no forno com verduras, que sai por R$ 18.00.
Onde Ficar
Pousada Papagaio - Esta pousada na Rua do Forró é bastante aconchegante. Tem piscina e um pequeno jardim, quartos com frigobar e ar-condicionado. Diária para casal com café da manhã sai por R$ 60,00. tel: (88) 621-1144
Pousada Ibirapuera - Eleita uma das melhores e mais caras pousadas de Jeri, a Ibirapuera fica na Rua São Francisco e oferece quartos duplex com ar-condicionado. A diária de um quarto duplo com café da manhã é R$ 80,00, na alta temporada, e R$ 60, na baixa. tel: (88) 961-5544
Brisa do Mar - Mais distante do centro de Jeri, esta simples pousada e bar fica em Tatajuba, no caminho para o vilarejo. Quartos simples saem por R$ 10,00 a diária.
Pousada das Dunas - Com vista para o mar e para as dunas do pôr-do-sol, esta pousada situada na Rua da Dunas tem quartos com ar-condicionado e frigobar. A diária para quarto duplo com café da manhã na baixa temporada sai por R$ 50,00 e na alta, R$ 70,00.
Como chegar
Jericoacoara fica na costa nordestina brasileira, no estado do Ceará, a 300 kms de Fortaleza e 30 de Gijoca. Pode-se pegar um avião do antigo aeroporto de Fortaleza para Camocim e de lá pegar barcos e um jipe 4x4 para percorrer o litoral em direção a Jeri. É possível também pegar um ônibus na Rodoviária de Fortaleza para Gijoca, e de lá pegar um buggy para Jericoacoara.
Pacotes
CVC – Pacote de quatro noites em Fortaleza e três em Jericoacoara (hotel e pousada), incluído vôo de Fortaleza a Camocim e transporte até Jeri pelo litoral, a partir de R$ 1.038,00 ou cinco vezes R$ 207,60. Este preço vale para maio e não inclui feriados. Jatos da TAM, F-100 e A-319. Tel: 224-4020.
Panexpress – Pacote de quatro noites em Fortaleza e três em Jericoacoara (hotel e pousada), incluindo transporte aéreo. À vista, sai por R$ 1.119,00 ou seis vezes de R$ 187,00. Saídas até o dia 23 de junho (exceto fins de semana e feriados). Vôos da Transbrasil e Varig, entre outros. Tel: (011) 259-8100/3266-6822.
TAM Viagens – Só ofereceu os preços via São Paulo. Até o dia 30 de junho, o pacote completo de três noites em Fortaleza e quatro em Jericoacoara, ou vice-versa, incluindo transporte aéreo (Fortaleza-Camocim), hotel e pousada, sai por R$ 1.363,00 por pessoa (quarto duplo) e R$ 1.663,00 individual (terças, quintas e sábados), e R$ 1.313,00 duplo e R$ 1.613,00 individual nas saídas das segundas-feiras. Tel: (011) 3120-2639/2742/2829.
Correta Turismo (Jericoacoara de avião) – O pacote econômico inclui o bilhete aéreo (Fortaleza/Camocim/Fortaleza), hospedagem com café da manhã em quarto duplo, guia local e tours pelas praias (R$ 434,00 por uma noite) e R$ 645,00 por sete, podendo ser parcelado em três vezes. O pacote completo inclui mais passeios, como tours pelas praias de Tatajuba e Mangue Seco (R$ 452,00 por uma noite) até a R$ 769,00 por sete. Tels: (085) 227-3288/272-3883.